Toda semana eu recebo mensagens perguntando quais são as habilidades técnicas (hard skills) e comportamentais (soft skills) que uma pessoa precisa ter para atuar no Legal Design.
Você sabe se tem as habilidades necessárias para ser Legal Designer?
Nesse artigo vou te explicar quais são essas habilidades e como desenvolvê-las.
Vamos lá?
O que é o Legal Design?
Se esse é o seu primeiro contato com o tema Legal Design, vou te explicar em poucas linhas o que ele é.
O Legal Design é uma abordagem que adaptou o Design Thinking para o mundo do direito, de forma a nos ajudar a projetar serviços e sistemas jurídicos mais humanos, úteis e satisfatórios.
Em outras palavras, é deixar de fazer o direito por fazer e colocar as pessoas no centro de toda solução jurídica para, com empatia, criatividade, prototipação e testes, alcançar a solução mais eficiente para o problema.
Bom, e quais as habilidades necessárias para executar projetos de Legal Design?
Habilidades técnicas (hard skills)
Na minha opinião, o primeiro e mais importante conhecimento técnico que um legal designer DEVE ter é o domínio da abordagem do Design Thinking.
Sem saber pesquisar, entrevistar, analisar, idear, prototipar e testar, você pode ser qualquer coisa, menos um Legal Designer.
E, para desenvolver essa mentalidade de designer (design thinking) e aplicar no mundo jurídico os mesmos conceitos que os designers usam para resolver seus problemas, você deve procurar conteúdos (livros, artigos, tutoriais e cursos) sobre Design Thinking.
Essa é a base (e não é fácil).
E para se aprimorar ainda mais e se destacar na área?
Adicionalmente, há outras habilidades técnicas que não são obrigatórias, mas podem separar os “Legal Designers Excelentes” dos profissionais que seriam apenas “Legal Designers Medianos”.
A explicação é que o Legal Designer não é obrigado a dominar essas habilidades e pode terceirizar quando o projeto exigir.
Porém, se souber um pouco sobre elas, tanto pode fazer sem precisar terceirizar, quanto pode ter mais recursos para identificar oportunidades e até́ para liderar as equipes que realmente aplicarão essas outras hard skills no projeto.
Nessa lista eu colocaria, apenas para citar algumas: design gráfico, plain language, storytelling, gamificação, gestão de projetos, prototipação de alta fidelidade, programação, blockchain, inteligência artificial e conhecimento das novas tecnologias em geral.
E por que elas representam esse diferencial?
A razão é simples. Em um projeto que visa solucionar um problema jurídico, o Legal Designer mediano terá que contratar alguém para ajudar com esses conhecimentos que ele não domina, enquanto aquele que os domina terá condições de aplicá-los diretamente.
Embora o design thinking seja uma abordagem que não se aplica individualmente, mas sempre em grupo, conhecer o básico dessas habilidades técnicas ajuda muito o profissional.
Como faz para aprender?
Primeiro, é importante esclarecer que você não precisa se tornar mestre em todas essas áreas do conhecimento, mesmo porque isso levaria décadas de estudo.
Reforçando: A ideia é que você conheça o básico, de forma que durante o projeto de Legal Design, esse seu conhecimento seja útil na fase de brainstorming, por exemplo, para ter ideias de soluções mais criativas e arrojadas.
Por exemplo, se você não tem a menor ideia do que seja Blockchain, como você poderia imaginar que essa tecnologia ajudaria em um projeto do seu cliente que busca garantir maior segurança no registro de transações?
Em outros casos, você pode buscar um conhecimento maior para você mesmo aplicar a técnica em seus projetos, como é o caso dos conhecimentos em plain language e design gráfico, que vão te ajudar a entregar projetos de Design de Informação (Visual Law) muito melhores.
Então, a ideia é procurar conteúdos (livros, artigos, tutoriais e cursos) sobre todas as áreas do conhecimento que possam te ajudar nos projetos. Isso te fará um Legal Designer mais completo.
Habilidades comportamentais (soft skills)
Em relação às habilidades comportamentais, eu destacaria que o profissional do direito que quer atuar como Legal Designer precisa fazer uma lavagem cerebral para apagar algumas crenças que nos são colocadas durante o curso de direito e que atrapalham no Legal Design.
A primeira delas é a empatia. No curso de direito somos treinados a ouvir o que a pessoa fala e imediatamente identificar uma solução jurídica dentro do nosso repertório, acreditando que nós sabemos tudo e sabemos o que é melhor para a pessoa e ela, leiga, não sabe nada.
Essa prática é o oposto do Legal Design. A primeira fase de um projeto de Legal Design é toda voltada a entender o ponto de vista da pessoa impactada pelo problema, qual é a sua dor, quais são suas necessidades, suas expectativas.
Só assim é possível encontrar a melhor solução. Porque a melhor solução não é a melhor solução para você, advogado. Mas a melhor solução para a pessoa impactada.
A segunda é abraçar o risco. No curso de direito somos treinados a evitar o risco a qualquer custo. Temos aversão total ao risco. Como diz a Margaret Hagan, nós praticamos um esporte que é o de abater qualquer ideia nova assim que ela aparece.
E isso mata o Legal Design.
Se o Legal Design é a busca por novas soluções para os problemas jurídicos, você não pode ter medo das ideias novas.
E as ideias novas, por sua vez, trazem riscos. Fazer algo que ninguém nunca fez é uma situação em que o resultado é imprevisível.
E é por isso que existe a fase de testes no Legal Design. Para avaliar se suas ideias novas para os problemas jurídicos estão no caminho certo ou não. A depender do feedback recebido, você vai ajustar ou vai avançar com a solução proposta.
Também chamamos isso de Antifragilidade, que é a habilidade de não ter medo de errar, pois tem consciência de que as falhas fazem parte do processo até a descoberta da solução ideal.
Com medo do risco ninguém é Legal Designer.
A terceira habilidade comportamental é a criatividade. Sem ela, suas soluções serão todas “dentro da caixa” e você não trará nada novo e mais eficiente para o mercado jurídico.
E, para ter criatividade, você precisa ter curiosidade, desejo de aprender coisas novas. É a curiosidade que alimentará o seu repertório de conhecimentos e esse rico repertório será a fonte de ideias e conexões inesperadas, à qual chamamos de criatividade.
Portanto, para desenvolver a sua criatividade, pare de consumir apenas conteúdo jurídico e andar apenas com pessoas da área jurídica. Diversifique. Visite exposições de arte. Conheça outras culturas. Viaje. Leia livros de outras áreas. Faça cursos alternativos. Ouça músicas de outros ritmos. Assista filmes que não sejam americanos ou brasileiros. E muito mais.
Por fim, eu destacaria a mentalidade de crescimento. Ela conecta todas as anteriores e é a convicção pessoal de constante descoberta.
Para ser Legal Designer, você não pode gostar de rotina. Nenhum dia será igual ao outro. Nenhum projeto será igual ao outro. Você precisa adorar a mudança, a instabilidade, a falta de ordem e a falta de segurança que ela proporciona.
Se você quer trabalhar das 08:00 às 17:00, fazendo exatamente a mesma coisa todos os dias, com previsibilidade e poucas mudanças, o Legal Design não é para você.
Conclusão
Espero ter ajudado com esse artigo a você entender que o Legal Design não é para todo mundo.
Embora eu acredite que, no futuro, todos os profissionais do direito precisarão entender e fazer Legal Design, essa realidade ainda está longe.
O Legal Design exige habilidades técnicas e comportamentais que, muitas vezes, são o extremo oposto do que é ensinado nos cursos de direito.
Se você se identificou, conte comigo para aprender e desenvolver essas habilidades.
Inclusive, na próxima segunda-feira (22/11) às 19hs, farei uma masterclass chamada “Legal Design além do Visual Law” que vai expandir a sua mente sobre o valor e o potencial do Legal Design para sua carreira no direto.
Mauro Roberto Martins Junior
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