Na semana passada eu estive em mais um evento da StartSe voltado para a inovação no mercado jurídico. Até hoje eu fui em todos, desde 2017, e vi o crescimento do evento, bem como do movimento de inovação jurídica no Brasil.
Eu escrevi um artigo parecido com esse no último evento, em 2019, que você pode ler clicando aqui.
Esse ano a minha expectativa estava muito alta, pois além do hiato de 2 anos separando os dois eventos, também voltei a pouco da Universidade de Stanford, onde pude ver no Codex Future Law 2022 as discussões mais atuais do setor, incluindo metaverso, computational law, blockchain, no code, web3, smart contracts, NLP, legal operations, machine generated legal documents, entre muitos outros (falei sobre a experiência aqui).
No entanto, para minha decepção, o evento de 2022 foi muito parecido com o de 2019. Não vi nada de muito novo, eram as mesmas pessoas mostrando os mesmos projetos. Parece que no Brasil não se criou nada de novo nos últimos dois anos, mesmo com os desafios da pandemia.
Para quem foi a primeira vez, deve ter sido legal. Para mim, que acompanho a inovação jurídica de muito perto, foi mais do mesmo. A parte interessante foi apenas o networking e, para surpresa de zero pessoas...
Legal Design e Legal Operations foram os destaques do evento
Isento de qualquer viés, me sinto muito confortável em dizer que o Legal Design e o Legal Operations foram as grandes sensações do evento, uma vez que registrei isso nos stories do meu Instagram e deixei salvo em um destaque chamado “Eventos 2022” (aqueles círculos com stories antigos).
No Legal Design, o que me chamou a atenção foi a feliz constatação de que alguns players no Brasil estão realmente fazendo o Legal Design verdadeiro, conforme a criação da Margaret Hagan em Stanford.
Ninguém defendeu a prática de utilização de modelinhos prontos ou documentos feitos apenas da cabeça do advogado com apoio de um designer gráfico, preocupado apenas com estética, sem o devido processo de design thinking.
A diretora jurídica da OLX, Anahi Loop, demonstrou muito domínio do tema e apresentou projetos bem interessantes de Design de Informação, tanto nos termos de uso quanto em peças processuais, sendo que ela esclareceu que o processo de design thinking foi aplicado no projeto.
Já o Guilherme Leonel da Lex deu uma aula sobre Legal Design, mostrou as fases do processo de design thinking, fez referência à Margaret Hagan, deu exemplos de todos os tipos de Legal Design e ainda mostrou um projeto incrível feito com a política de privacidade da C&A que aumentou em 84% a capacidade de leitura e de busca de informação dos usuários.
Isso é Legal Design. Eficiência e resultados mensuráveis.
Houve também dois projetos de Legal Design na modalidade Design de Organização que foram realizados em duas empresas gigantes, Infraero (com Emanuele Weiler) e Suzano (com Walner Júnior).
Por fim, o Rui Caminha, do Villa, mostrou um excelente projeto de Design de Informação que foi realizado no contrato de prestação de serviços da operadora de telefonia TIM e que levou meses para ser realizado.
Isso é Legal Design. Completo e complexo.
Pena que eu não consegui ver os workshops de Legal Design que aconteceram em outro auditório, mas no mesmo horário das apresentações de Legal Design na plenária principal. Quem foi para ver esse tema, teve que escolher um ou outro. Erro grave da organização.
No Legal Operations, a própria apresentação do presidente da Associação Brasileira de LawTechs e LegalTechs (AB2L) destacou que a gestão exponencial é formada por metodologias ágeis (scrum, kanban), legal design thinking e métricas (OKR’s e KPI’s).
No período da tarde tivemos uma apresentação incrível sobre dois projetos de eficiência jurídica que foram aplicados com ótimos resultados em duas outras empresas gigantes, Whirlpool (com Felipe Caffone) e Gerdau (com Simone Minassian).
Convite “Aprenda a enfrentar os desafios jurídicos com Legal Design e Legal Operations juntos e na prática”
Aproveitando, antes da conclusão desse artigo, gostaria de te convidar para um webinar gratuito que farei amanhã ao lado da Silvia Piva (Nau d´Dês) e da Mirian Silva (Thomson Reuters).
O webinar será amanhã, 7 de julho, das 09hs às 10hs.
Para se inscrever, basta clicar nesse link.
Descubra e veja na prática como as empresas estão ganhando agilidade e resultados expressivos com a abordagem do Legal Design e Legal Operations.
Você vai gostar de aprender como unir os dois temas que mais se destacaram no Lawtech Innovation Day 2022 da StartSe.
Conclusão
Para um evento que leva em seu nome a expressão “Lawtech”, que se refere às startups de tecnologia jurídica, o que se viu mesmo foi o brilho das abordagens, técnicas e metodologias de gestão.
Na minha opinião, as Lawtechs brasileiras ainda não atingiram o chamado “market fit”, que é o ajuste dos seus produtos à demanda do mercado.
E antes que alguém venha reclamar, já argumento. Se alguma Lawtech tivesse alcançado tal nível de entrega, estaria com milhares de clientes e já teríamos um unicórnio no setor (valor de mercado de $ 1 bilhão ou mais). Não é o caso.
Jurimetria ainda está devendo em termos de entrega. Integência artificial, idem. Blockchain aplicada de forma massiva na área jurídica, ainda é utopia
Eu tenho um levantamento global e em outros países já temos Lawtechs unicórnios, como é o caso da Clio no Canadá, da Ironclad e LegalZoom na Califórnia, Relativity em Chicago.
Segundo especialistas, 12 outras Lawtechs estão na fila para se tornarem unicórnios, nenhuma delas é do Brasil:
· Onna
· PandaDoc
· Athennian
· FreeWill
· Contractbook
· Mainstreet
· DocJuris
· Envoy Global
· JetClosing
· Empathy
· Brightflag
· DealHub.io
Portanto, acredito que no curto prazo, a inovação jurídica brasileira é muito mais de serviços, processos e de gestão, do que necessariamente de tecnologia. Legal Design e Legal Operations são as soluções mais desejadas e mais eficientes nesse momento.
Ah, e o evento diminuiu em número de participantes. Se foram 3 mil em 2019, esse ano voltou para o Center Norte com 2 mil participantes. Será que teremos um LawTech Day em 2023?
Mauro Roberto Martins Junior
Fundador e CEO da Escola Brasileira de Legal Design
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